Patrícia Spier

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Dedicação, carisma e competência.


Carisma, criatividade, simpatia, dedicação, sinceridade, associados a muita energia e vitalidade, são apenas alguns dos atributos que compõe o perfil de Patrícia Spier dos Santos, Radialista do Baguete Digital.


Por puro prazer e conhecimento pessoal, faz Economia na UFRGS. Sua formação é em Jornalismo, pela Unisinos. Oradora da turma, festeja sua formatura no dia 15 de janeiro de 2010.

Com seu cativante sorriso, tomada por extraordinária felicidade ela diz: “Esse é o grande acontecimento da minha vida agora.”.

Há pouco tempo, TI era um assunto muito novo dentro do jornalismo, Patrícia não fazia idéia do real significado da Tecnologia da Informação: “Eu imaginava que era algo ligado à internet apenas...”, confessa um tanto encabulada.

“Depois que eu descobri o que é a TI, eu fiquei...”, expressa espanto de forma singular: “Choquei... Nossa é tudo isso? É todo esse quotidiano, cheio de TI o tempo todo, em cada lugar que tu vai tem uma estrutura por trás, ou teve, ou vai ter... Isso foi fascinante!”.

Patrícia encantou-se quando convidada para o projeto da rádio web, “Quando o Gerson e o Maurício me chamaram para ajudar a bolar a rádio, eu não tinha idéia que seria realmente só de TI, eu fiquei fascinada, achei muito bacana, outro mundo.”, conta com entusiasmo.

Oriunda de rádio FM, demonstra alegria e orgulho na profissão, adora poder aproveitar diversas oportunidades, sem limites: “Esse é o trabalho do jornalista, sempre querer conhecer mais e não se assustar com as coisas, apesar de eu ter me assustado com a TI... ‘que mundo é esse?’, mas eu achei, e acho muito bacana.”

Antes de março de 2009, quando entrou para o time do Baguete Diário, o mais próximo que Patrícia chegara ao mundo da TI: seus amigos “nerds”, alunos da Informática. Atualmente, ela já conhece a sopa de letrinhas da tecnologia:

“Isso que é bacana no jornalismo, não te limita nada; se um dia me chamarem para trabalhar na National Geographic, que faz matérias sobre o macaco uriano do sul da África, vou ficar muito feliz, pois este é o trabalho do jornalista, sempre querer conhecer mais e não se assustar com as coisas.”, fala com tamanha empolgação e reflete por um par de segundos.

Patrícia é responsável por toda a parte da rádio do Baguete, desde a criação de vinhetas, produção de alguns programas, até a locução dos podcasts: “Dá para dizer que é só a parte de rádio, e esporadicamente reportagens fora daqui. Fora do rádio, mas sempre tem podcasts envolvidos.”.

Ela vive um cotidiano de rádio, no qual a única diferença de uma rádio normal, é que não vai ao ar ao vivo e não está na onda do rádio, no dial, é web.

“Porque de resto... produção, correria, às vezes, uau, tem que botar no ar agora uma notícia bomba, tem que botar no ar correndo, vamos editar esse áudio, vamos correr, vamos fazer a locução rápida. Eu edito os textos que recebo, para a leitura ficar mais fácil, então, é muito parecido com o cotidiano de uma rádio FM.”, explica.

O conceito de rádio web é ainda muito novo; um pouco, ou muito, diferente das rádios tradicionais FM ou AM; e Patrícia, com muita tranquilidade esclarece esta diferença:

“Aqui, estamos moldando certa rotina do que seria um ideal de rádio web, a gente não tem uma redação de rádio web, até porque não existe tanto conteúdo, pelo menos na TI, para que se vire um espaço só para isso.”.

“Uma rádio FM tem toda uma rotina específica, entram vários locutores no ar, tem muito mais redação, e, principalmente, muita música. Rádio FM é assim; rádio AM não, rádio AM é quase 100% locução de notícias. Então, a rotina é muito mais pesada, é gigantesca, toda uma estrutura envolvida de equipe”.

“A rádio web não precisa disso, porque é muito simples mantê-la, é ter um notebook, um computador que seja, um programa de áudio, uma mesa de áudio, um microfone, um estúdio, tu pode montar um estúdio, ele é simples, tu não precisa de uma concessão para isso, tu não precisa que o governo te libere uma rádio web, é muito mais simples hoje em dia, mas a gente ainda está começando, isso em caráter mundial, na questão da rádio web.”.

“Ela é recente, então, ainda tá se moldando essa coisa, de como seria uma redação de rádio web, e rádio web jornalística como essa aqui do Baguete, quase não existe. Estou pra te dizer que aqui no Rio Grande do Sul só tem a do Baguete, que seja 100% jornalística, então ela tem essa diferença, é uma rádio segmentada”.

Para ela, rádio é sua vida. Já trabalhou na Unisinos FM, onde teve contato direto com ouvintes naturais, alguns críticos, outros davam sugestões. Onde atua atualmente, o contato é com o leitor, totalmente diferente.

“Por exemplo, o Paradão... é odiado e amado. Tem gente que: ‘que absurdo ter um paradão, que absurdo falar de piada’... É tem... É normal, tem sempre a parte conservadora... Mas tem gente que adora. Claro que eu e o Maurício não somos humoristas, eu e o Maurício viemos de outras áreas assim, que sempre envolveram humor. Então, por que não fazer alguma coisa que envolva piadas, piadas da gente assim?”, comenta, no início um pouco entristecida, mas em seguida o sorrisão enche o estúdio, onde gravamos a entrevista.

Já foi estagiaria em um escritório de advocacia, alguém acredita? Pois é, foi sim, com apenas dezesseis anos. Ela é musicista desde os nove, tocava violino, aos quatorze já tinha uma banda, então, conheceu o rock: “‘Ah não, violino, na época, era muito santinho... ai o rock, pra mim, era bem mais legal.”.

Andava de “terninho” e sua mãe autorizou que ela fosse morar sozinha, Patrícia sempre foi muito independente e uma guerreira, que busca a realização dos seus sonhos. Continua assim. Não mudará, só para melhor.

Seu primeiro estágio, uma exploração, em 2000, ganhar apenas R$150,00 para trabalhar oito horas. Mas ela aprendeu muito, lições que levará para sempre e que a tornaram a pessoa magnífica que é hoje.

“Eu morava sozinha, uma amiga minha chegou a morar uns tempos lá, mas não rendeu muito, e nisto, virou um ano. Olha eu aprendi tanto, mas tanto...Eu faço economia por causa disto, eu tinha tino de administração do meu dinheiro. Incrível. Eu tinha 16 para 17 anos e foi a melhor experiência que eu pude ter, ralei, mas ralei muito.”, narra com orgulho.

“Eu aprendi horrores! A me virar sozinha, fazer pagamentos das minhas contas, não desperdiçar luz, água, respeitar os vizinhos, sabe? Estes valorzinhos que a gente vai aprendendo. E hoje em dia, sei administrar meu dinheiro muito bem, nunca perco dinheiro, nunca fico no vermelho, mesmo ganhando bem pouquinho eu sempre me virava com aquele pouquinho.”, nos dá uma lição.

“Desde esta época eu não pedi mais dinheiro para aminha mãe... vou fazer economia, para dar um foco, entendi bastante, claro, tá certo, faz sentido esta minha economia toda. ‘não sou mão de vaca, sou econômica’ é bem diferente. Eu não me importo de ficar sem as coisas que eu gosto, mas eu controlo.”, observa.

“Entrei tarde na faculdade, com 20 anos, normalmente você entra com 18; fui viajar, fazer outras coisas. Aí, comecei jornalismo, e logo depois fui trabalhar como fotógrafa freelancer, com Rogério Ribeiro, depois eu trabalhei na redação do Terra, na TV da Unisinos.”, relata sua trajetória jornalística.

“Trabalhei dois anos na TV Unisinos, como apresentadora, produtora, editora, e depois, na rádio Unisinos; trabalhei na Usina do Gasômetro na época da direção do Frank Jorge, sempre envolvida com música sabe; e a minha banda junto em paralelo; fui para São Paulo trabalhar como fotografa freelancer; Rrecife, Olinda, Rio de Janeiro...”, lista diversos locais.

“Comecei a viajar assim, e aqui, nossa, eu me apaixonei! Hoje trabalharia com um negócio que tivesse viagem, é claro que eu gosto de rádio, mas trabalharia com viagem, sempre trabalhei com jornalismo. Na faculdade, me envolvi integralmente ao jornalismo, e isso me deu uma bagagem muito grande, hoje em dia, é difícil eu ter que ralar para entender o que está acontecendo, como faz um texto, ou como faz um boletim de rádio, estas coisas que são parte do jornalismo, eu não tenho mais dificuldade, posso dizer que sou uma profissional de jornalismo.”, completa com orgulho.

Patrícia sente (e transmite) confiança em seu trabalho: “Hoje em dia isto é super tranquilo; hoje em dia eu dominei o jornalismo sabe, ele não me domina mais”.

Dicas para chegar lá

Patrícia ainda não chegou lá, não gosta de sentir-se presa a lugares ou pessoas, para ela, as coisas materiais não são os maiores valores da vida; ela nos conta algo muito peculiar:

“Olha eu não cheguei lá ainda, mas estou indo para lá . Nunca fui presa a nenhum lugar, ou a ninguém, tanto que não consigo namorar muito tempo, ficar presa a alguém. Estou sempre fazendo outras coisas. Não tenho carteira de motorista, não tive coragem de fazer, e, por conseguinte também não comprei um carro ainda, eu penso ‘se eu comprar um carro ficarei presa a ele’.”, faz um gracejo e continua:

“Não ficar presa a ele, mas presa a Porto alegre, e eu fico pensando ‘e se quiser ficar um ano na Inglaterra, meu Deus, não vou porque tenho meu carro’. Claro que é uma coisa besta e pequena, mas eu não gosto de ter coisas materiais. Dá um desespero de pensar em ter um apartamento e ter que mantê-lo”.

“Prefiro não ficar, prefiro ficar livre para sair pelo mundo. Sou doida por viagem, e é claro que é ótimo viajar, mas ter um lugar para voltar é melhor ainda. Conheci muita gente que não tem para onde voltar. São cidadãos do mundo, não tem uma casa, os parentes não existem, e isto é triste. Melhor coisa que tem é ter o gosto de ‘vou viajar’ e ficar naquela da viagem.”, admite feliz.

Sobre a Banda Musical Amizade

Patrícia tem banda desde muito jovem: “Sempre tive banda com meninos, nunca gostei de ter banda com menina porque menina da muito chilique...”, dá risada enquanto confessa que de vez em quando ela própria “dá chilique”.

“É a minha banda tá chamando bastante a atenção da mídia daqui, a Zero Hora foi a primeira grande mídia a escrever algo, em 04/09/2008. Eu fiz um clipping da banda com todas as matérias do ano passado para cá, incrível, ninguém pagou o jabá.”, menciona incrédula.
“A banda tá indo, vai tocar em São Paulo, já tocou em rádio do Japão, rádio de Buenos Aires, por isto eu disse que queria aprender mandarim, já tocou em vários lugares, em rádios esquisitas. Porque na internet a coisa voa, e nossa música é muito divulgada pela internet, então, quando tu vês, a nossa música tá tocando lá na Indonésia e tu não sabe.”, reconhece feliz.

A banda da Patrícia tem um diferencial muito criativo: Lúcio, o baterista virtual. Evidente que isso chama muito a atenção da imprensa.

“São quatro humanos e um baterista virtual. Chama muito a atenção. Sem querer, foi um mote que a gente nem imaginava. O som pode até não ser legal para muita gente. E hoje em dia o segredo da música não é nem a música, é uma boa divulgação. Às vezes a banda é chata, que saco esta banda, mas ela ta sendo muito bem divulgada.”, considera sobre as bandas em geral.

Ela é vocalista da banda e também compõe com os meninos Lucas Diniz (vocal), Marcelo Conter (guitarra), Gabriel Saikoski (guitarra), Lúcio, o baterista virtual, é o único que não compõe.

“A banda tem três anos, metade mora em Canoas e metade em Porto Alegre, com média de idade de 22 a 26 anos e eu sou a mais velha. O baterista tem até um nome, é Lúcio ele deve ter uns 20 anos, é super novo assim, e chato, às vezes a gente está num show e ele incomoda. Às vezes a gente tá falando e ele fica batendo as baquetas, e fica dizendo ‘vamo lá’... É ele que manda na banda. Quer dizer, eu quero mandar, mas é ele que ganha. Como ele é virtual, ele é programado para isto, ele acaba mandando na banda, mas acabou virando uma brincadeira.”, destaca com graça.

“Ninguém de nós lembra como surgiu, a gente falou ‘vamos projetar alguma coisa’, a gente tava fazendo a programação da bateria e aí a gente pensou ‘vamos projetar alguma coisa’, nós vamos ter que preencher este palco... aí, alguém falou, quem sabe um baterista virtual, aí ficou. E chamou muito a atenção, no primeiro show que a gente fez, um colunista da Zero Hora foi lá fez uma matéria, despertou a atenção assim, inacreditável. A gente foi em quase todos os programas de TV aqui de Porto Alegre. Mas nada que de muito lucro, só divulgação mesmo. Ninguém largou seu emprego, ninguém vai vier da música.”, pondera.

“A maioria dos comunicadores gosta da banda, ela não é uma banda popular, infelizmente, eu gostaria que ela fosse popular, mas ela não é. O refrão não é chiclete, não é um caráter assim. Fala de coisas como cultura pop, dos anos 70, 80, 90, de pensadores. Então, normalmente, jornalista gosta muito, por isso é que sai. Eu gostaria que adolescentes gostassem da gente, mas não é o público.”, ressalta sobre o público e a banda.

Sobre a presença da mulher no mercado de TI

Patrícia percebe que no mercado do jornalismo, a presença feminina tem aumentado a cada ano. Ela atribui isso à sensibilidade feminina, principalmente na habilidade de entrevistar, de perceber as coisas o ambiente de sentir o entrevistado.

Na TI, ela percebe justamente o contrário: “Eu gostaria de ver mais mulheres na TI, acho sensacional ver uma mulher executiva, uma mulher que cuida de negócios, acho completamente interessante. Um dia eu quero entrevistar alguém assim, pois me parece ser muito difícil. As mulheres que vem aqui no Baguete dar entrevistas, todas dizem a mesma coisa, que elas têm um problema de querer todas as coisas e os problemas para si; ela quer resolver tudo, porque mulher é assim, ‘deixa que eu faço, deixa que eu faço... é melhor eu fazer do que os outros fazerem”, isto acaba estressando a mulher que tem um monte de coisas para fazer sempre.”, relata impressionada.

Ela percebe que este é o grande desafio das mulheres em geral: “Trabalhar este lado, as minhas tarefas são estas e eu vou delegar mais funções, vocês vão executar isto e eu vou executar aquilo.”.

“É difícil mesmo. Eu aqui na rádio não consigo deixar uma coisa passar em branco, se eu percebo que alguma coisa está precisando, bah, vamos ajudar, porque eu não consigo, acho que é muito da mulher isto.”, comenta.

Patrícia acredita que a predominância masculina ocorre devido ao perfil: “Homens têm o perfil de ser mais focados e racionais, e a gente trabalha mais com o coração. Talvez minha visão esteja completamente distorcida porque eu não sou do mercado.”.

Para ela, a mulher tem um papel especial na TI: “É ela que florifica a TI. Seria muito estranho ver só homens neste mercado porque a mulher contribui em gerenciamento fantasticamente, acho que mulher tem tino de ver a coisa como se estivesse fora e desenhar aquele mapa e gerenciar isto. Eu estou para ver homem organizado.”, diz em meio a uma risada e continua:

“Na TI, gerenciamento feminino é muito eficaz, eu vejo que empresas gerenciadas por mulheres são bacanas. E o mesmo vale para assessorias de imprensa destas empresas, a gente vê que as empresas, cuja assessora é mulher, tem uma presença na mídia muito grande. E eu acho que mulher tem mais esta coisa de relações públicas. É bem dividido, mas acho que poderia haver muito mais mulheres.”, conclui.

Competência, sorte ou "QI"?

“Sorte, muita sorte. Eu tive muita sorte em conseguir trabalhos legais pra mim, eu sempre quis trabalhar na Unisinos FM, eu sempre quis trabalhar com rádio e tive muita sorte, mas o Quem Indica também é fundamental. Ter contatos, tua rede de contatos ser grande, e a minha hoje aqui é bem legal, tu acaba se relacionando com as pessoas e tendo confiança delas e elas contigo também.”, inicia.

“Competência, se você dividir, acho que 20% QI, é que na minha profissão tem muitos casos esquisitos, tem gente que não tem competência nenhuma e consegue trabalhar num posto super bacana, de apresentador de TV num programa legal, que são pessoas que tu vê que não tem competência diária, às vezes o contrário, tem muita competência e não tem o QI. Acho que sinceramente até hoje o que me fez conseguir nunca parar de trabalhar, estar sempre no mercado, foi sempre me dedicar ao trabalho, aprender, aperfeiçoar aquilo que tu faz.”, continua.

“Nunca fiquei fora por não dominar alguma área específica do jornalismo, eu sempre me mantive no mercado por causa disso, por saber fazer jornalismo, saber fazer rádio, por QI também. Inclusive, a Márcia foi quem me indicou aqui, é eu entrei no Baguete por indicação, e tá tudo alinhado né, acho que se tu estás bem no meio, isso acontece simultaneamente, QI, competência se mistura com sorte.”, confessa sorrindo.

“Sorte... sorte... eu ouço muitos jornalistas que trabalham na Zero Hora, é muita questão de sorte, às vezes, matérias mais legais vêm por sorte, tu está ali na hora certa no lugar certo, por sorte assim. Por sorte e pelo cosmos...”, expressa.

Feminismo X Machismo

Sabe que, pelo menos no lado profissional, eu nunca tive problema com isso, acho que eu não percebo se acontecer, eu não dou bola para isso, acho que talvez eu não perceba, consequentemente, não me afeta em nada, se eu perceber, se eu ver alguma, acho que eu não vou nem me dar conta, porque machismo é uma coisa tão absurda, que...”, ela para alguns segundos, faz uma careta que diz mil palavras, só quem a conhece entenderia.

“É mesmo, tu é machista? mas que... nossa tu existe no mundo? Sabe? Aonde tu estava, que século tu vive?”, lá vai aquele olhar novamente, misto de espanto com incredulidade, “Então, aquilo é tão banal pra mim, apesar de ser uma agressividade imensa, mas eu não percebo, eu fecho meus olhos, não naquele sentido não quero ver não quero nada, não, não é isso, é tão pequeno isso...”, ela gira a cabeça como quem não acredita ser possível no século XXI, existir machismo ou feminismo.

Para ela, é absurdo ainda convivermos com pessoas que agem dessa forma, “Não vejo essas coisas acontecerem e se vejo ou se me contam, eu fico tão ‘p’ da vida... Acho que sou capaz de levantar uma bandeira. Não sou feminista, não sou machista também, sou completamente neutra, mas se eu vejo acontecer com uma pessoa... Mulheres, firme e forte!”, diz energicamente, simulando uma expressão de malvada, como se fosse possível.

Preconceito, Remuneração Diferenciada e Assédio

Patrícia tem muita curiosidade de saber como é o dia-a-dia de uma empresa de TI, para sentir, perceber como as coisas realmente são. Para ela, na área da tecnologia talvez, não exista o preconceito, e sim uma cultura masculina: “Que sem querer o caminho, os tempos foram andando e se tornou um mercado masculino...”.

Já na área do jornalismo, ela sofreu discriminação por ser jovem, mulher, repórter e executar atividades que, para certas pessoas, deveriam ser realizadas por homens, ou “peões”... A discriminação vai muito além do sexo.

“Eu fiz um programa na TV Unisinos, que era do Canal Futura, e eu atacava muito de câmera, fazia tudo sozinha, porque numa TV tu tem uma estrutura, tem um repórter, o produtor, o editor, o câmera, então tu tem uma equipe toda, mas muitas vezes eu fazia tudo isso sozinha, não porque eu queria fazer tudo sozinha, e não queria que ninguém me ajudasse, mas pela necessidade.”, começa seu relato.

“Não tinha ninguém, então fica aquilo, assim: ‘ah, tu que fez as imagens, há porque não deixou uma cara fazer? ah por que tu carregou uma câmera tão pesada, tu tão fraquinha desse jeito’, mas muitas vezes na TV eu carreguei equipamento pesado, porque eu sou muito de botar a mão na massa, eu não sou de ficar olhando sabe, então, vamos pegar junto, eu sou repórter, mas quem disse que...”, então ela se cala, um tanto indignada.

“Tem gente que vê uma hierarquia nas coisas, mas eu não consigo ver isso, pode ser muito péssimo, porque as vezes eu não me dou conta dessas coisas sabe, sei lá, por exemplo, se eu tô em outra empresa que tem uma hierarquia muito formal, a Patrícia vai lá e ajuda o peão, entendeu, mas não por maldade ou por coisa assim, pô, eu quero pegar junto, eu sou muito de pegar junto.”, enfatiza.

“Tá afim de montar um projeto, chama a Paty, e eu sou de ir até o fim. Na TV isso aconteceu muito, de os homens mais velhos, mais ‘hã cara feia assim...’ virar o nariz para mim, porque eu to carregando equipamento pesado... ‘guria não pode carregar isso ai’... porque não?”, manifesta-se.

Para ela, não importa a função que está exercendo; estagiária, repórter ou por ser mulher. Patrícia é o tipo de pessoa que veste e sua a camiseta; ela põe a mão na massa mesmo, sem medo e com garra; enfrenta de frente o que for necessário.

Revela que não tem medo de chefia: “É horrível isso, não tenho medo, mas pô, eu sei que tô certa sabe, quando eu tô errada, eu fecho a minha boca, tu tem razão, nossa tu tem razão, eu levo crítica muito bem assim, eu trabalhei isso muito bem nas épocas de estágio, de me chamarem... ‘porque tu é uma burra’... de chefe falar isso sabe... de eu sair chorando, mas isso tanto cresce que hoje tenho uma casca, que crítica para mim, ouço muito na boa, então, eu não tenho problema com isso, sabe.

Sobre salários diferenciados: “Sim, muito evidentemente, seja na TI, seja no jornalismo.”.

Sobre assédio: “Se houve assédio, eu nunca vi, sou meio desligada... eu muito convivi com homens, por causa dessa coisa de banda e tal, então eu sempre tratei homem e mulher igual, nunca vi uma malícia sabe.”.

Vida Pessoal X Vida Pessoal

Patrícia trabalha em média oito horas por dia e admite com muita alegria ser viciada no seu trabalho, pois adora o que faz.

“Claro que eu já vi gente que é workaholic, eu não sou nem perto de um profissional workaholic; sou tranquila ainda, é que eu gosto do que eu faço, acho sensacional, como eu trabalho com música, e edição de áudio é a mesma coisa o que eu faço, eu faço na minha banda também, então tem dias que eu chego em casa e bah eu to afim de testar uma trilha diferente... mas nada que me incomode”, declara contente.

Hoje ela trabalha com prazer, mas já bateu um Record de dezesseis horas sem parar, quando tinha 22 ou 23 anos. Cuidava pouco de sua saúde, estava com gastrite, andava muito nervosa e impaciente. Parou. Olhou para si e resolveu se cuidar.

“Hoje tenho uma paciência de Jó, adoro ouvir sabe, adoro conversar, gosto de perguntar e gosto de ouvir, não me apressa que eu já sei o que eu to fazendo, vou conseguir acabar, sabe, tranquilo, não dá pra levar a vida no stress, não tem como, tu acaba... tu consegue progredir em alguns meses ali, mas daqui a pouco tu vê, tu perdeu esses três meses de vida ai e não vão voltar... Aprendi isso viajando, olha como a vida é linda, tem tanta coisa para acontecer...”, salienta com sabedoria.

“Quando me chamam para fazer alguma coisa, eu vou me dedicar muito a ela, adoro me dedicar as coisas, claro, se é uma coisa que eu ache legal, se é uma coisa que eu não acho legal... ah pois é, mas eu digo que não, hoje em dia eu sei dizer que não; quando eu entrei no Baguete, nossa eu tinha idéias para programas, no meio do banho, e eu ‘aonde é que eu vou anotar, onde é que eu vou anotar?’ ai dava uma secada na mão e pegava o celular e gravava no celular.”, segreda.

Então ela conta de forma muito divertida sobre seu processo criativo; não raras vezes, as ideias surgem durante a noite, ela não sossega enquanto não fala com o Maurício e as coloca em prática, resultando excelentes programas e vinhetas.

Quando ela ouviu os guris falarem, “tu tem que bolar a rádio...”, foi como ganhar um presente. Para quem adora trabalhar com criação, ela chegava a ter “ataque de idéias”. Na verdade, continua tendo, ela é por demais, criativa.

Gerencia sua vida pessoal e profissional com tranquilidade, tem certa dificuldade quando precisa ir ao banco: “Sou muito adaptável, me adapto em qualquer lugar, então aqui no Baguete não foi diferente, consigo lidar tranquilamente com as minhas tarefas pessoais então, até porque é meio junto. Minha vida pessoal é meio junto com o Baguete assim, não me alastro muito, então não tenho dificuldade não.”

Para relaxar, adora andar de roller, assistir um bom DVD e principalmente os extras: “Adoro olhar extra de DVD, adoro perder tempo com isso, adoro, não tem coisa melhor.”.

Procura ter uma alimentação saudável e tranquila: “Não como muita gordura, gosto muito de comer fruta, suco, agora no verão então nem se fala, suco é sensacional, eu acho que isso ajuda a não cair no sedentarismo.”, todos os dias ela faz uma caminhada.

Realizações e Desafios

“Eu sempre fico assim, quando alguém diz ‘ó tu tem cara de guriazinha’ isso me desrealiza.”, fala pausadamente e pela primeira vez, muito séria.

“Pra mim jornalista experiente é o bom jornalista, por isso que eu sempre disse, vou ter sempre experiência em jornalismo, pra ser uma jornalista com bagagem; isso que é importante no jornalismo, ter bagagem, tu conhecer, porque o jornalista é especialista em assuntos gerais.”, enfatiza.

Patrícia não se considera ainda realizada, sabe que está no caminho certo: “Falta muito livro pra eu ler, muito filme pra eu ver, muitos lugares pra conhecer, então eu ainda não cheguei a um ponto que ‘não, agora eu sou uma pessoa com bastante bagagem, faço uma matéria sobre qualquer coisa, tranquilamente’; ainda não sou assim, eu preciso usar o Google pra conhecer as coisas sabe, isso me frustra um pouco...”, revela consciente que sua carreira está no início.

Com simplicidade, revela que seus sonhos são todos “realizáveis”, alguns já foram realizados como viajar para Buenos Aires; mais tarde, pretende fazer uma pós-graduação e sonha em fazer jornalismo internacional, “mas isto é um sonho a ser realizado a médio prazo.”, medita, sem perceber o intenso brilho em seus olhos.

Um sonho peculiar de Patrícia é aprender mandarim: “Acho isto uma coisa incrível, é uma das coisas mais engraçadas do mundo, alguém conseguir falar em mandarim e alguém conseguir entender.”.

Um desafio: “Escrever um livro. Não me imagino escrevendo um livro, apesar de fazer jornalismo, mas os melhores livros que eu li até hoje foram escritos por jornalistas, e acho isto um desafio enorme, uma grandeza incrível, colocar em 300 páginas uma idéia, acho isso um grande desafio. Desafiar seus próprios limites...”.

Patrícia já ultrapassa os próprios limites, é tímida e não admite, mas para todos os leitores (e ouvintes) do Baguete, isso é uma realidade; colaborou muito com o Baguete, que vai sofrer com sua ausência temporária.

Para ela, criatividade já virou rotina, isso é no trabalho, na música, sua vida é assim, e se abre de forma tão singela e sincera:

“A pessoa nasce criativa, aquela criatividade diária, saber fazer milhões de coisas, e aquela criatividade que tu adquire com o tempo com a tua bagagem. Eu jamais poderia ajudar a criar uma rádio, se já não tivesse trabalhado com rádio, acho que isto não aconteceria. Acho que a criatividade vem junto, e a proatividade vem junto com a tua bagagem. Quanto mais tu dominas, mais tu sabes fazer. Acho que é bem por aí, eu vejo isto na música, quando eu passo muito tempo sem tocar guitarra, eu pego na guitarra de novo, ah não sai uma música legal, não to afim, e ai quando tu cria uma, aí tu te empolga e tu cria outra, quando vê tem um disco pronto. É bem assim, é sistemático, é um sistema que tu crias, teu próprio ser é assim. Comigo é assim... Se eu estou em um contexto eu crio naquele contexto.”.

Planos e Perspectivas para o Futuro

“Fazer uma pós, viajar bastante.”, admite de imediato, com alegria e muita vontade. No futuro, Patrícia gostaria de trabalhar em algum lugar em que pudesse viajar muito.

“Tirar umas férias, assim de um mês e tal, e fazer um mochilão na Europa, fazer estas viagens bacanas... só eu assim... sozinha. Seria um desafio enorme, eu acho isto um desafio incrível. Acho que se eu fosse sozinha para Europa, ou qualquer outro lugar, America Latina, seria uma descoberta interior incrível. Ai que tu vês teus limites interiores mesmo.”, julga.

“Tem uma frase que eu acho maravilhosa, assim: Os limites da Minha Língua são os limites do meu mundo. Porque o momento que tu não conhece, tu não sabe falar o inglês ou o espanhol, isto limita bastante, mas é claro que não é só saber a língua, é saber te comunicar. É tu aprender, é todo um código de comunicação diferente, se tu sabes a língua e sabes te comunicar, em outras cidades tu tens que entender os códigos de comunicação deles, e isto é um desafio muito grande. É tu saber conseguir te expressar. Tu ter uma conversa profunda. Conseguir entender aquele inglês diferente deles. Isto só a bagagem pode te dar, e eu quero isto, isto é um plano para o futuro.”, anuncia com firmeza.

Mensagem para os leitores

Patrícia deixa um relato esplêndido para refletirmos:

“Olha, uma coisa que eu aprendi é que saber perceber é um grande avanço na vida. Saber perceber as coisas, e não ver a vida com olhar moral, sabe, deixar um pouco a moral da gente, os costumes, as tradições o País que seja, a nossa criação e tal.”.

“Acho que a gente só aprende isto confrontando a nossa cultura com outra. Quando tu encontras um turco as coisas são completamente diferentes. Tu não podes olhar para ele com olhares morais do Brasil, e ele também não, senão vocês nunca vão se comunicar com o coração”.

“Então, eu acho que isto que eu aprendi, e que eu gostaria de passar para os meus filhos sabe, é saber perceber o mundo sem a moral, ou pelo menos tirar um pouco dela. Tirar um pouco dos preconceitos da gente, e olhar as pessoas como seres humanos”.

“Não olhar, por exemplo, quando eu era adolescente eu tinha ídolos da música, e eu os olhava como deuses. Não, hoje eu já não olho ninguém como deus, eles são gente como eu, e não desrespeito eles por isto, nem por nada deste mundo, mas acho que saber perceber o mundo.”.

“Saber ouvir as pessoas, muitas vezes tu encontra gente que tem o que falar e não tem quem ouça. Acho que tu ser um catalisador, não de problemas dos outros, mas das histórias dos outros. Como é bom ouvir a história dos outros, por mais absurdas que elas possam ser, tu sempre aprende alguma coisa com isto.”

“Eu acho isto fantástico. Eu acho que descobri, entendi a moral do jornalismo sim, é saber ouvir mesmo; saber ouvir as histórias dos outros. Porque sempre os outros têm uma história muito legal para te contar. Por mais simples que ela seja, ela pode ser muito legal.”.

“Eu sou muito de me surpreender com tudo. Eu tenho um problema de ser hiperbólica. Quando uma coisa é grande eu digo “é muito grande”. Eu me surpreendo demais com as coisas. E para mim a vida precisa ser assim, é preciso se surpreender com as coisas, não ver as coisas naturalmente assim.”.

“Olhar Porto Alegre, em vez de olhar para baixo, para o chão, olhar para cima, é outra cidade... Eu aprendi a ver Porto Alegre assim.”.

“Acho que é isto, aprender a perceber o mundo. Saber escutar, ouvir tanta coisa legal que as pessoas têm para dizer, as diferenças malucas que as pessoas têm que tu nem imagina.”.


Patrícia aprendeu cedo a “ver com os olhos do coração”; muito temos a aprender com suas palavras.

Para saber mais sobre a banda Musical Amizade, acesse o blog: http://www.myspace.com/musicalamizade.

Para ver a matéria da Patrícia no Baguete, clique aqui.

Muita Paz e muita Luz para todos.
Judith.

Sobre o Blog

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Este blog é uma forma singela de homenagear as grandes mulheres que atuam na área da Tecnologia da Informação.

Durante o ano de 2009, entrevistei 35 profissionais das diversas áreas da TI, escrevi uma matéria sobre cada convidada, e publiquei no Baguete, um jornal digital especializado em TI, aqui de Porto Alegre.

Certa vez, minha Mãe, com um pequeno livro em suas mãos, me ensinou muito bem uma lição: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos…” (Antoine de Saint-Exupéry).

Desde criança, quando ela leu para mim O Pequeno Príncipe, tento ver, com os olhos do coração. É desta forma que procuro escrever. Retratar as pessoas, como se um pintor a estivesse pintando.

Confesso que meu sonho é escrever da mesma forma que Renoir pintou (retratou) As Meninas Cahen d’Anvers (conhecido como Rosa e Azul).

A forma como ele captou o sentimento das duas irmãs, no momento da pintura. O sofrimento da pequena Alice, e o apoio da mais velha, Elisabeth; a motivação que as levava a posar.

A mais jovem sentia dor, o vestido de renda, desconfortável; ficar na mesma posição durante horas, inconveniente. Elisabeth segura sua pequena mão com firmeza, transmitindo segurança e conforto.

A motivação? Elas consideravam os vestidos lindos e só tinham permissão para vesti-los em dias de festas.




Para mim, 2009 foi um ano especial, de de crescimento, transformação, aprendizado como todos os outros de minha vida, mas aprendi tantas coisas com cada entrevista que fiz, e também em cada linha que escrevi sobre cada uma das gurias que publiquei neste espaço.

Cultivei novas e valiosas amizades.

Em 2010, novas idéias, novas entrevistas, novos aprendizados e desafios.

Muita Paz e muita Luz para todos,
Judith Riboni.



 
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